terça-feira, 27 de setembro de 2011

Nunca desistas!

Somos ensinados desde pequeninos a nunca desistir, a ser fortes, a nunca baixar os braços, a nunca dizer "que se lixe". Vem nos livros, nos desenhos animados, nos filmes, é perpetuado nas conversas de café, é lema no aconselhamento entre amigos. Não desistir nunca: quem espera sempre alcança, se não desistirmos, aquilo que queremos vai acontecer, de certezinha. Porque esse é o segredo e a chave da felicidade: nunca, mas nunca desistir. Desistir é sinónimo de fraqueza, de derrota, ou apenas da escolha de um caminho mais fácil.
Posso discordar tanto, mas tanto disto? Tantas, mas tantas vezes na vida é preciso desistir.
No amor, por exemplo (não desistas, ele não olha para ti, ele seguiu em frente, ele isto e ele aquilo, não desistas nunca). Acredito que tantas vezes aqui é preciso saber largar, abrir mão, parar de forçar, deixar completamente de acreditar. Por mil e um motivos: porque não somos valorizados, retribuídos, porque temos de nos resguardar, porque a relação nos prejudica, por amor próprio, porque sim, o outro nunca vai mudar, independentemente de nós e do quanto queremos acreditar que vai. E quem já experimentou desistir de pensar, desistir de sentir, desistir de investir em alguém que se ama sabe do que estou a falar, e sabe que não é o caminho mais fácil.
Na luta contra uma doença (não desista do meu pai doutor, sim ele é muito velhinho, está acamado e não fala e não vê e acho que já nem nos reconhece, mas se tem um cancro opere, corte, tire-lho, vamos doutor, não desista). Quando uma intervenção agressiva não vai acrescentar qualidade à semana de vida que podemos prolongar, quando as pessoas só querem é estar sossegadas, quando morrer em casa é melhor do que morrer numa maca, num qualquer corredor do hospital, agora conhecidos como "o senhor do tumor", quando o tratamento já é apenas obstinação e serve apenas para aquietar a pressão da família. Aqui também é preciso saber parar, saber quando é demais.
Acredito piamente em saber desistir. Saber desistir do sonho disparatado que nos impede de fazer alguma coisa realmente útil na vida (não podemos ser todos ricos e famosos, que tal começar por ter dinheiro para a renda e logo se vê?), desistir das expectativas desajustadas e irreais (se tens média de 10, se calhar não vais entrar em Arquitectura, e que tal pensar noutra coisa?), desistir de ser quem não somos (nem toda a gente gosta de ti? well, embrace it).
Saber desistir às vezes é sinónimo de uma coisa boa: sabedoria.

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